tinha um papel
em branco
e eu enchi
de poesia
os espaços que cabiam
pra eu me encontrar
tinha um papel em branco
e eu escrevi
o que podia
pra a cada instante
dizer o que sentia
sobre a vida
sobre os dias
sobre o tempo
tempo
tempo
tempo
tinha um papel em branco
recheado de momentos
nulos
esquisitos
sangrentos
tinha sangue no papel
em branco
e eu
com toda a minha poesia
não consegui descrever
tudo o que dava
pra escrever
naquele segundo
que passava
que ecoava
que dizia
não
não
não
de novo
não
não.
não dá
pra gente achar normal
a tortura
o preconceito
o estupro
o racismo
o fascismo
o ódio
não dá pra gente achar normal
ter como voz
alguém que propaga
dor
dor
dor
que dor
que dor.
meu peito chora
minha lágrima grita
minha voz some
mas
a minha poesia
continua
a minha escrita
persiste
eu
resisto
resistimos.
minha luta
é de muitas
e nossa luta
é válida
é real
é viva
a gente vive.
tinha um papel
em branco
e nele
eu coloquei
toda a poesia
que vem
do nosso ato
de amar
de lutar
de ser
de viver
estamos aqui.
existimos
continuamos
vivemos
e
enquanto houver
tempo
tempo
tempo
lutaremos
sempre.
lutaremos sempre.
e além.
lutemos além!
tinha um papel
em branco
e
juntas
colorimos
o arco-íris
que
quase ninguém
conseguia
e ainda
não consegue
enxergar
enxergamos.
pintamos.
votamos.
choramos.
que a gente nunca mais tenha que deixar de dizer, que a gente nunca mais se cale, que a gente nunca mais deixe de existir.
que a gente lute, e lute muito, pra que ninguém nunca mais tenha que entregar, com sangue nos olhos, um papel em branco sem poder falar, sem poder escrever, sem poder existir.
que a gente
nunca mais
tenha que abaixar
a cabeça
pros horrores
que existem
por aí
e que a gente se salve. a poesia salva. a luta salva. a gente sente.
amor, o mundo precisa de amor.
e ele não dá amor.
ele não.
ele nunca.
nós sempre.
amor,
Caca